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Quando comer deixa de ser apenas comer: um olhar junguiano sobre transtornos alimentares

  • Foto do escritor: Thálita Borges
    Thálita Borges
  • 6 de ago.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de out.


Mulher olhando no espelho
Mulher olhando no espelho

Comer é, à primeira vista, um ato simples e necessário para a vida. Mas, para muitas pessoas, a relação com a comida se torna um território de conflito, controle, culpa e sofrimento. Em vez de nutrir, alimentar-se passa a ser uma forma de lidar com emoções, preencher vazios, expressar angústias ou exercer domínio sobre o próprio corpo.


Sob o olhar da psicologia junguiana, os transtornos alimentares não são apenas questões comportamentais ou biológicas. Eles são expressões simbólicas da psique, formas de a alma comunicar algo que não encontrou palavras. Por trás de uma compulsão, de uma restrição severa ou da obsessão pelo corpo, há histórias não contadas, emoções não digeridas e imagens internas clamando por escuta.


Neste artigo, vamos explorar os transtornos alimentares como manifestações simbólicas da alma, compreendendo como a psicoterapia pode ser um caminho de reconexão com o corpo, com os afetos e com o que verdadeiramente nutre.


Quando a comida carrega um significado que vai além


Para a psicologia analítica, sintomas não surgem por acaso. Eles têm uma função: chamar atenção para algo que precisa ser olhado, vivido e transformado. Com os transtornos alimentares, não é diferente.


Quando alguém sofre com anorexia, bulimia, compulsão alimentar ou outras dificuldades com a alimentação, é comum que o foco se concentre no corpo e no comportamento. Mas, muitas vezes, o sintoma está ligado a questões emocionais profundas, como:

  • Sentimentos de inadequação ou vazio existencial

  • Necessidade de controle em um mundo interno caótico

  • Dificuldade em lidar com emoções intensas ou traumáticas

  • Feridas relacionadas à autoimagem, autoestima e identidade

  • Experiências de crítica, abandono, rejeição ou exigência


O corpo, nesse contexto, torna-se o palco onde essas emoções se expressam. Comer demais, comer de menos, purgar ou restringir não são apenas atos físicos, são linguagens simbólicas da alma tentando encontrar um modo de ser ou de pedir ajuda.


Mulher comendo
Mulher comendo

A escuta simbólica da alma


Na abordagem junguiana, o trabalho terapêutico não se limita a eliminar o sintoma. Ele busca compreender o que está por trás da dor: o que essa relação com a comida revela sobre a história da pessoa? Que imagens internas estão associadas ao corpo? Que emoções estão sendo sufocadas ou projetadas no alimento?


Exemplos práticos do olhar simbólico:

  • Uma mulher que, ao restringir alimentos, também está tentando reprimir sua raiva, uma emoção que aprendeu desde cedo que não poderia sentir.

  • Um homem que come compulsivamente sempre que se sente sozinho, porque a comida passou a simbolizar afeto, segurança e presença.

  • Alguém que purga após comer, como forma de "expulsar" algo que sente que é inaceitável ou impuro dentro de si.


Essas manifestações não são fraquezas ou falta de força de vontade. Elas são tentativas inconscientes de lidar com conteúdos psíquicos complexos. A psicoterapia junguiana oferece um espaço de escuta para esses símbolos, promovendo integração entre mente, corpo e emoções.


O papel da psicoterapia no processo de cura


Tratar transtornos alimentares requer sensibilidade, tempo e uma escuta profunda. Na psicoterapia junguiana, o processo envolve:


  • Acolher a dor e o sintoma sem julgamento

  • Explorar os significados simbólicos da alimentação e do corpo

  • Trabalhar os afetos reprimidos ou distorcidos

  • Reconectar-se com o próprio valor e identidade além da aparência física

  • Construir novas formas de se relacionar com a comida e com a vida


Muitas vezes, os sonhos trazem imagens importantes sobre a relação com o corpo, com a nutrição ou com figuras internas que exercem pressão ou crítica. Os mitos e contos também ajudam a nomear processos inconscientes, oferecendo novos sentidos para aquilo que parecia apenas sofrimento.


A relação com a comida pode ser, sim, um reflexo de uma fome mais profunda, de afeto, pertencimento, expressão ou reconhecimento. Transtornos alimentares falam de dor, mas também de uma busca por sentido. E é possível transformar essa dor em caminho de cura, reconexão e crescimento.


Algumas sugestões para iniciar esse processo:

  1. Observe sua relação com a comida com curiosidade, não com culpa.

  2. Pergunte-se o que você realmente está tentando alimentar ou controlar.

  3. Anote seus sonhos, imagens e sensações corporais. Eles são pistas valiosas.

  4. Busque ajuda profissional especializada. O caminho não precisa ser solitário.


Você sente que sua relação com a comida carrega algo que precisa ser ouvido?


Se sim, a psicoterapia pode ser um espaço acolhedor e transformador para esse processo.

Estou aqui para te acompanhar com sensibilidade, escuta profunda e respeito à sua jornada.



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